domingo, 6 de setembro de 2009

O primeiro show do Beirut no Brasil: Salvador, 4 de setembro de 2009!

Depois de sete horas de viagem de ônibus, mais uma hora rodando por bairros e mais bairros de Salvador em um micro-ônibus, cheguei ao meu hostel, no Pelourinho, e de lá saí voando pro TCA, já contando os minutos para a apresentação - para mim - mais esperada da noite.

Apresentação do Beirut no Teatro Castro Alves, Salvador
O PercPan é o tipo de festival musical cosmopolita, de trato fino para apreciação, mas o que eu estava esperando veio após a apresentação japonesa, que quase me fez dormir (não pela apresentação em si, mas porque aquela música me embalava como vento num carro em movimento).
Quando o palco ficou vazio novamente e luzes azuis se acenderam, fiquei em alerta, preparei a câmera e eles entraram, pouco mais das dez da noite. Eram seis (Kristin Ferebee, a violinista, Tracy Pratt, sopro, e Jon Natchez, não estavam), e abriram o show com chave de ouro, tocando "Nantes".

Como estávamos no Teatro Castro Alves, até então estávamos todos sentados, quando Zach, visivelmente ‘chapado’ convidou as pessoas a ficarem de pé. Se antes o público estava meio que ‘segregado’ pelo status da compra de seu ingresso (os primeiros clientes compraram os primeiros/melhores lugares), esse convite fez cair ao chão essa separação. 90% do público saiu do seu lugar e foi para os pés do palco, berrar, ver, cantar junto a um Zach que interagia com o mesmo sem grandes dificuldades no português.





Em seguida, "The Shrew", "Postcards From Italy" e "Elephant Gun" continuaram a fazer o público vibrar, especialmente com esta última (mesmo cantada numa ‘versão bêbada’ [créditos da expressão pra Eduardo], que – como todos sabemos – foi tema da minissérie Capitu, exibida pela Globo em dezembro último – e conquistou para a banda milhares de fãs brasileiros, entre adolescentes e jovens.

Na sequência, "La Javanaise", um cover da cantora francesa Madeleyne Peyroux (“Agora eu vou cantar ‘en français’”), "Shiki Shiki Baba", cover da Orquestra Kochani, a fofa "Mimizan", e a clássica "Gulag Orkestar", entre outras. Entre uma e outra canção Zach falava em português, brincava com a plateia e interagia daquele jeito típico de alguns bêbados, mas de bêbados carismáticos, fato que dava o tom de irreverência à coisa toda.




A setlist, a propósito, não foi perfeita (faltou "Sunday Smile", nem "Forks & Knives", por exemplo). Houve algumas músicas do Zapotec, e admito que não é meu disco favorito, mas ele tem algumas canções com bom potencial, como "La Llorona", "The Concubine" e "My Night with the Prostitute from Marseille", que ficaram de fora da apresentação de sexta.

O momento constrangedor da noite foi quando Zach convidou a plateia para ir até o palco: a multidão simplesmente irrompeu como um dilúvio humano, e vimos, da fileira Z7, os músicos sumirem em meio a uma turba em polvorosa, enquanto os seguranças tentavam fazer voltar a ordem. A bagunça acabou logo, mas logo deram por falta de um microfone (que, reza a lenda, custaria cerca de US$700), e depois, de um dos instrumentos.



Momento da 'invasão' do palco

Momento mais tranquilo quando o Kelly Pratt (teclado/backing vocal/sopro, membro também da banda canadense Arcade Fire e da Team B, seu projeto paralelo) puxou o "parabéns pra você" pro carinha da tuba (na verdade é um instrumento da família da tuba), que estava fazendo aniversário sexta (22 aninhos). A galera até cantou junto: "happy birthday to you..."
Aliás, o Kelly Pratt brilhou diferente naquela apresentação. Era ele quem segurava o vocal umas vezes em que Zach simplesmente parava (não se sabe exatamente se porque esquecia a letra, ou por algum outro motivo); era ele quem puxava palmas, foi ele quem voltou para amparar Zach no final, quando este, já sozinho no palco, não conseguiu dar continuidade a "The Flying Cup Club" (Zach tentou ainda umas duas ou três vezes, mas não conseguiu): “Eu não posso cantar... Obrigado.”




Tirando os inconvenientes da invasão do palco e do roubo do microfone, e o fato do lead estar claramente bêbado/chapado/"doente” (whatever), o show teve seus pontos altos. O repertório foi simples, mas apropriado para um show breve, embora eu tenha cá minhas dúvidas de que se Zach não estivesse trêbado, certamente o show seria mais longo... Logo, é, nada de "Leãozinho" e nem "Brazil". Por outro lado, a musicalidade da banda, ao vivo, é, em alguns momentos (como em "Cozak" e "Shiki Shiki") ainda mais pungente que as versões de estúdio. Os backing vocals de Pratt, ao vivo, somados à base de Zach, formam um conjunto vocal que impressiona: são vozes raras, incomuns. Parece que nasceram para cantar aquilo.

Não foi uma das melhores performances do Beirut. Mas, no final das contas, só a emoção de estar vendo uma das minhas bandas ‘modernas’ favoritas tocar ao vivo, compensou todos os pormenores negativos. Tanto deles quanto meus: o cansaço, os desencontros, os inconvenientes, o desgaste. Mas os encontros, a adrenalina, a aventura, as risadas e as boas companhias, com certeza deram o tom colorido dessa viagem.

Definitivamente, valeu a pena ter ido ver o Beirut em Salvador.